A história recente do Médio Oriente apresenta-se como um teatro onde os Estados Unidos da América e Israel, frequentemente aliados em operações estratégicas, têm desempenhado papéis centrais na transformação de regimes. Mais uma vez, um governo foi derrubado, e, no seu lugar, colocaram rebeldes que prometem a mesma instabilidade que os precederam. A primeira leitura é clara: a Síria caminha para se tornar uma segunda Líbia, ou talvez algo ainda mais devastador. E o próximo alvo parece estar à vista – o Irão.
Por Malundo Kudiqueba
A geopolítica do caos. A estratégia de remover governos para instalar novos regimes alinhados com interesses ocidentais raramente trouxe paz ou prosperidade às populações afectadas. Desde o Iraque até à Líbia, passando pelo Afeganistão, assistimos a um padrão repetitivo: desestabilizar, intervir e abandonar. No caso da Síria, o cenário repete-se com nuances ainda mais sombrias. “Remover ditadores para instalar o caos não é libertação, é oportunismo maquiavélico.”
A instabilidade é rentável. Para o complexo industrial-militar dos Estados Unidos, conflitos prolongados garantem contratos bilionários para a produção de armas e serviços de segurança. Para Israel, a fragmentação dos países vizinhos assegura a sua superioridade estratégica na região. Em ambos os casos, a hegemonia sobrepõe-se à diplomacia, e o direito internacional é descartado como irrelevante. “A paz nunca será prioridade para quem lucra com a guerra.”
O bullying político global. O comportamento dos Estados Unidos e de Israel assemelha-se ao de um valentão no recreio global: intimidam, isolam e humilham aqueles que ousam contrariar os seus interesses. Seja através de sanções devastadoras ou operações militares, esses países impõem uma ordem mundial baseada no medo e na submissão.
Os exemplos abundam. Desde o embargo contra Cuba até às sanções que estrangulam economias como a venezuelana e a iraniana, os Estados Unidos utilizam o seu poderio económico e militar para dobrar nações à sua vontade. Israel, por sua vez, age como um parceiro estratégico que complementa esta agenda com operações regionais que garantem a manutenção de um Médio Oriente fragmentado e fraco. “A soberania tornou-se refém de quem detém as maiores bombas e os maiores bancos.”
A necessidade de um contrapeso global. Num mundo onde uma única potência dita regras, a justiça internacional torna-se uma utopia inalcançável. O equilíbrio de forças é essencial para garantir que nenhuma nação se torne um tirano global. Neste contexto, defendo a necessidade de uma Rússia forte e de uma China determinada, para contrabalançar os excessos norte-americanos. A multipolaridade não é apenas uma questão de justiça, é uma questão de sobrevivência para muitos países.
Uma Rússia forte serve como dissuasor contra o avanço ocidental desenfreado. Enquanto os Estados Unidos tentam projectar a sua influência de forma unilateral, Moscovo, com os seus interesses estratégicos e laços históricos com várias regiões do mundo, apresenta-se como um obstáculo necessário à hegemonia americana. Da mesma forma, a ascensão da China como uma potência económica e militar oferece um equilíbrio às dinâmicas globais. “Sem equilíbrio de poder, o mundo é um tabuleiro onde só um jogador dita as regras.”
Instabilidade como ferramenta de dominação. A verdade desconfortável é que o caos é uma estratégia deliberada. Países mergulhados na instabilidade são incapazes de resistir às imposições externas. É neste cenário que os Estados Unidos e Israel florescem. Mas enquanto estes países celebram as suas vitórias geopolíticas, milhões de vidas são destruídas e regiões inteiras mergulham na miséria. “A instabilidade não é um acidente, é uma política de lucro e dominação.”
Como sociedade global, devemos questionar: até quando permitiremos que interesses hegemónicos determinem o destino de nações inteiras? Até quando aceitaremos que a soberania de países seja tratada como moeda de troca em jogos de poder?
O Médio Oriente merece estabilidade, não exploração. E o mundo merece líderes que promovam a paz, não a guerra. A hegemonia de uns poucos não deve ser o preço a pagar pela dignidade e pelo direito à autodeterminação de todos os povos. É hora de levantar vozes contra o bullying político e exigir um sistema internacional mais justo e equilibrado.